Eu sei o que você quer dizer. Já tive muitos estados superiores de completa liberdade e paz como esse.
Podemos estar falando ou não do mesmo estado; não tenho como determinar. Mas o que estou me referindo, e a que os conceitos de não-dualidade se referem, não é um estado que possa ser colocado em uma frase como a que você proferiu como se fosse uma descrição verdadeira dos fatos.
“Eu tive um Estado Natural” não é uma possibilidade, embora possa parecer tão convincente. O Estado Natural não pode ser obtido. Somente o ego pode afirmar que ele teve um Estado. Na verdade, o ego nunca tem nada. O ego é um conceito. Um conceito não faz, não possui, nem vivencia nada.
Supondo que você tenha tido um vislumbre genuíno do Estado Natural, e não apenas um estado mental superior, o que você está descrevendo é assim:
O ego está ativo. Então, o ego entra em suspensão. Porque o ego está ausente, o sempre presente Estado Natural torna-se aparente. Então o ego deixa a suspenção e a crença de que somos o ego é re-instaurada como antes. E o ego então diz: “eu tive aquele estado”.
Isso é o mais próximo que o intelecto pode chegar a descrever o que aconteceu na verdade. Qualquer coisa que se pense ou se diga sobre o Estado Natural que começa com “eu tive” é imaginação.
Portanto, é recomendável voltar nosso ceticismo e dúvida para a afirmação “eu tinha…” e especificamente “eu”, e indagar interiormente.
Isto não é retórica. E não pode ser entendido conceitualmente. Requer olhar com atenção para o que está presente. É por isso que a ferramenta é chamada de “auto-indagação”.
Todo estudo, toda preparação, todas as práticas, todos os “ismos”, convergem à esta ação. Isto é: prestar atenção ao que Há. O que nós tivemos, ou acreditamos que tivemos ou acreditamos que teremos um dia, não tem importância alguma.