A oração é útil?
Depende do grau de sabedoria presente e do tipo de oração.
Se você não amarrar seu camelo e ele fugir e depois rezar pela sua recuperação, é bem possível que você consiga seu camelo de volta. Mas se você não prestar atenção na sua própria negligência, você não ganhou nada de substancial. Na verdade, é provável que você perca seu camelo novamente.
Espiritualmente, se você rezar pela remoção do sofrimento mas permanece inconsciente de seu traço principal e investe e justifica todo tipo de idéias falsas, teorias e crenças, e emoções negativas egocêntricas, a oração é inútil e pode até ser contraproducente. Ninguém, nenhum deus, nenhum professor lhe dará paz se o diabo correr livre em seu jardim. Isto é purgatório, mas mais perto do inferno do que perto do céu. Jardim de infância espiritual.
Em um nível mais refinado, a oração pode ser vista como um tipo de meditação. Você coloca sua atenção em alguma idéia e tenta atrair a Sabedoria por trás da idéia. A Lembrança de Si é uma dessas práticas. Ou a Auto-Indagação.
Pegue a primeira linha da oração de São Francisco, por exemplo.
“Senhor, fazei de mim um instrumento de Vossa paz”.
Concentre-se na paz e se ela for revelada como É a oração terá funcionado no seu nível mais alto ou mais profundo possível. Se a Paz do Senhor é Conhecida, o Eu é Conhecido. Tudo isso aponta para a mesma Coisa. Ela convida o Despertar.
O restante da oração de São Francisco descreve o funcionamento da personalidade sob a Paz do Senhor e é belamente inspiradora, na minha opinião.
Mas na linguagem destas orações há uma separação entre eu e Deus!
Exato, é isso que eu quis dizer, é útil dependendo do grau de sabedoria presente.
Estas orações são úteis antes que o Despertar ocorra. Depois, não faz sentido pois agora se sabe que não há separação.
É o mesmo com os poetas místicos. Eles dizem “não volte a dormir” e “O Amigo”. Bem, Você nunca esteve acordado e nunca adormeceu e não há “Amigo” separado, nem Deus, nem Consciência. Portanto, esses poemas podem ser inspiradores no princípio do caminho. Talvez para Bhakti ou pessoas centradas emocionalmente eles funcionam como ponteiros, quem sabe; não sei. Intelectualmente eles não são congruentes com a realidade.
Com o Despertar, sabe-se por experiência direta que não há eu aqui e um “Amigo” lá. Não há eu aqui e Tao lá, não há eu aqui e Deus lá. Assim, orações e exaltações a Deus se tornam sem sentido e são naturalmente descartadas. Esse processo dá lugar a um relacionamento mais profundo com a Divindade, que culmina a qualquer momento, com a dissolução de tal relacionamento.
"E é na morte que nascemos para a vida eterna". Suponho que isso se refere à morte do ego.
Isso se refere à dissolução da sensação de separação com a Divindade. Essa manifestação particular do ego cessa e assim o Ser Eterno torna-se evidente, por assim dizer.
A noção de morrer para a vida eterna, ou ir para o paraíso após a morte física, que é tão prevalente em certas religiões, é imaginação baseada na fé cega sem intuição e sem sabedoria. É fantasia baseada em interpretações errôneas e distorções dos ensinamentos originais.
A Realização Espiritual não tem nenhuma relação com a morte do corpo. Ela tem relação com, ou é igual à, morte da sensação de separação. Nada além disso, de fato.